terça-feira, 30 de março de 2010

Don't you forget about me

Vim só dar um olá geral e, respondendo às mensagens de alguns leitores via Twitter e Facebook, dizer que estou vivo e o blog não acabou (aliás, se um dia eu resolver terminá-lo, podem ter certeza de que farei isso da forma mais solene possível, a menos que eu tenha sido fulminado por uma jaca despencada de alguma árvore da Floresta da Tijuca).

Bem, eu já tinha adiantado que o ritmo das postagens ia diminuir neste ano, mas minha meta era subir pelo menos um texto novo por semana. Não estou conseguindo nem isso. Assuntos não faltam, desde as pautas obrigatórias que estão sendo mastigadas por todos (julgamento do casal Nardoni, outing do Ricky Martin, discos novos do Goldfrapp e Hot Chip), até experiências pessoais minhas, como divagações à la Introspective sobre temas de comportamento, ou os vários restaurantes que conheci nos últimos meses e ainda não resenhei. O problema é falta de tempo mesmo. Tenho o maior carinho por isto aqui, mas, na hora de definir prioridades, o blog invariavelmente sai perdendo para tarefas mais urgentes (e que pagam as minhas contas).

Dito isso, já vou avisando que tem post novo no forno. Semana passada, tirei uma folga providencial de tudo e fui passar uns dias em Buenos Aires, de onde voltei cheio de coisas para contar. A capital argentina ainda é um dos assuntos que mais trazem leitores novos para cá, pelas consultas via Google que apontam meus textos sobre ela; por isso, me parece uma boa ideia dar uma atualizada geral nos conteúdos. Estou processando as informações, pensando no formato de texto mais adequado e, até o fim da semana, o resultado estará no ar. Ah, e vou aproveitar o feriado para dar um giro pelos blogs, e ver o que os amigos andam escrevendo também. Com certeza, terei muita coisa boa para ler. Nos vemos!

quinta-feira, 18 de março de 2010

2011, o ano do trabalho escravo

Podem dizer que 2010 mal começou, mas quem tem planos que precisam ser programados com muita antecedência já está de olho no ano que vem. E 2011 vai ser um ano daqueles, pelo menos no que diz respeito à proporção de trabalho & obrigações versus descanso & viagens.

Para começar, o Carnaval vai cair só láááá no dia 8/3. Ou seja, o Brasil só vai começar a funcionar em março? Hahaha, quem dera a vida fosse tão fácil assim. O problema é que todos os feriados cristãos andarão juntos para frente. A Sexta-Feira Santa vai cair no dia 22/4, ou seja, um dia depois do Tiradentes (21/4). Dois feriados fundidos em um, how bizarre is that? (No caso dos cariocas, pior: são três feriados em um, já que dia 23 eles deixam de trabalhar com a desculpa de que vão homenagear São Jorge).

Logo em seguida, ironia do destino: primeiro de maio, que é Dia do Trabalho, cai no domingo. Fail! O Corpus Christi nunca enfrenta esse risco, pois é sempre numa quinta, mas dessa vez caiu láááá longe de novo, no dia 23/6 (quase em julho!). Nove de julho, feriado estadual aqui em São Paulo (Revolução Constitucionalista de 1932, poucos sabem), será igualmente desperdiçado, pois cai num sábado.

E os feriados do segundo semestre? Independência (7/9), N. Sra. Aparecida (12/10) e Finados (2/11) caem todos na quarta-feira! Tá, pelo menos não é fim de semana, mas também não dá para emendar e viajar. Serão dias bestas, metade com cara de sábado, metade com cara de domingo. Só a Proclamação da República (15/11) cai numa terça. É o único feriado aproveitável do semestre, já que Consciência Negra (20/11) será sábado e, para enterrar o ano de vez... Natal e Réveillon cairão no fim de semana! Epic fail!!!

O jeito é aproveitar ao máximo os feriados deste generoso 2010. E, para quem pode acumular férias no trabalho, deixar para tirá-las em 2011, quando elas farão muito mais falta. Só não terá saída quem estiver de emprego novo: vai amargar um ano inteiro de escravidão, sem trégua para descansar. Lerê, lerê...

domingo, 14 de março de 2010

Assumindo preconceitos

Estou entrando em outra das minhas fases introspectivas. Não, eu não me fecho em mim mesmo, viro um eremita e deixo de estabelecer trocas com o mundo ao meu redor; para todos os efeitos, a vida segue do mesmo jeito e eu também, e só amigos muito atentos conseguiriam notar alguma diferença (sendo que meus amigos andam bem desatentos ultimamente). Tento desacelerar o passo e deixar de ser um ator o tempo todo, para virar um espectador da minha vida. A ideia é tentar se olhar de fora, se perceber, ver como as coisas estão indo, o que está pegando, o que pode ser melhorado. Loucura é continuar fazendo tudo sempre igual e querer que as coisas mudem.

Nesses momentos de autoanálise, às vezes pintam uns insights que acabam mudando o rumo das coisas. Outros nem são tão radicais assim: simples "estalos", ideias que aparecem, jeitos novos de ver coisas antigas. Um dos estalos que vieram nessa safra: aprender a discernir os próprios preconceitos.

Notem que eu disse "discernir". Porque trata-se, antes de tudo, de conseguir identificar o preconceito em si mesmo. Todos somos preconceituosos o tempo inteiro, e muitas vezes não nos damos conta disso. Falamos muito em "combater o preconceito", em "não ter preconceitos", no "fim do preconceito" (e o preconceito é sempre uma coisa do "outro", não é?), mas não percebemos o quanto somos apegados a ele. Quando falo em preconceito aqui, não estou pensando naquelas formas óbvias e extremas de intolerância, que a sociedade recrimina (racismo, misoginia, homofobia). Pode ser aquele preconceito mais bobo, que norteia nossas decisões mais banais, e justamente por isso passa batido.

Uma festa, um conhecido, um filme, uma música, uma sugestão de programa. Quantas vezes bate em nós uma espécie de "preguiça prévia", que nos faz rapidamente descartar aquilo, porque já decidimos de antemão que não nos serve? Riscamos do mapa sem dó e com uma inexplicável segurança. Decidimos sem conhecer, amparados justamente em ideias que fabricamos por conta própria, os tais preconceitos. E com isso, deixamos de ampliar nossos horizontes e perdemos a chance de se surpreender, de verdade.

Claro que também não é o caso de radicalizar, de passar a experimentar tudo. Há coisas que simplesmente não nos instigam, não nos apetecem, não despertam nada, e temos que respeitar isso. Não tive a menor vontade de ir ver aquele filme que contou a história do Lula, por exemplo. Mas é saudável termos sensibilidade para separar uma coisa da outra: quando algo realmente nos desagrada e quando nós, na verdade, não conhecemos direito aquilo e nutrimos um desgosto antecipado, que eu chamei de preguiça prévia no parágrafo anterior. Nesse último caso, o mínimo que temos a fazer é identificar que nossa opinião é fruto de um julgamento preconceituoso, e assumi-la. Mesmo se decidirmos continuar com ela.

quinta-feira, 4 de março de 2010

Formato mínimo

Depois de anos fazendo download apenas de músicas soltas aqui e ali, finalmente aprendi como se baixa um álbum inteiro de uma vez (#Incruzaum Dijitau Feelings). Tenho aproveitado meus raros momentos ociosos (pois é, o ano começou) para dar uma conferida em alguns discos que, por motivos diversos, ficaram um tempão parados numa "lista futura" que nunca se consumava.

Um desses discos (o termo é cada vez mais antiquado, quase anacrônico, mas me deixem) é Cosmotron, lançado pelos mineiros do Skank em 2003. Eu tenho uma certa preguiça da fase funk-boboalegre-radiofônica da banda (especialmente "Garota Nacional", que ninguém aguenta mais ouvir forever, tipo a "Bad Romance" de 1996), mas esse trabalho veio numa direção diferente, que já vinha se sinalizando desde o anterior Maquinarama: menos dançante (chega de metais!) e mais puxado pro rock. Em Cosmotron, o grupo resolveu prestar um tributo aos Beatles. O resultado vai da simples inspiração à mais descarada chupação, especialmente na primeira metade do álbum (a faixa de abertura "Supernova" é o exemplo mais gritante).

O álbum foi bem recebido pela crítica, mas não teve o mesmo sucesso comercial de lançamentos anteriores. Três foram as músicas de trabalho: a alegrinha "Vou Deixar", que virou tema de novela da Globo, a acústica "Amores Imperfeitos" e a balada "Dois Rios", talvez a canção mais bonita da história da banda, junto com "Resposta" (1998). O disco todo é gostoso de ouvir, coeso e bem amarrado (até me animou a pesquisar trabalhos posteriores da banda), mas a música que me cativou mesmo foi "Formato Mínimo".

Embalada por uma melodia delicada, a letra conta a história de uma one-night stand, dentro do bom padrão de qualidade do compositor Samuel Rosa. Muito bacana a métrica dos versos, toda apoiada em palavras proparoxítonas, uma ideia simplesmente genial... que Chico Buarque já tinha tido antes, em "Construção". Tudo bem: certa vez, o editor de uma conhecida revista gay escreveu em seu blog que "se a pessoa não tiver ideia nenhuma, não tem muito problema. Juntar outras de repertórios diferentes e dar um novo sentido a elas já é um trabalho digno de nota. Vale copiar, reproduzir, refazer". Nesse exercício de retroalimentação, de releituras de referências, o Skank mandou muito bem.

FORMATO MÍNIMO
Começou de súbito
A festa estava mesmo ótima
Ela procurava um príncipe
Ele procurava a próxima

Ele reparou nos óculos
Ela reparou nas vírgulas
Ele ofereceu-lhe um ácido
E ela achou aquilo o máximo

Os lábios se tocaram ásperos
Em beijos de tirar o fôlego
Tímidos, transaram trôpegos
E ávidos gozaram rápido

Ele procurava álibis
Ela flutuava lépida
Ele sucumbia ao pânico
E ela descansava lívida

O medo redigiu-se ínfimo
E ele percebeu a dádiva
Declarou-se dela o súdito
Desenhou-se a história trágica

Ele enfim dormiu apático
Na noite segredosa e cálida
Ela despertou-se tímida
Feita do desejo a vítima

Fugiu dali tão rápido
Caminhando passos tétricos
Amor em sua mente épico
Transformado em jogo cínico

Para ele uma transa típica
O amor em seu formato mínimo
O corpo se expressando clínico
Da triste solidão a rúbrica


Uma versão ao vivo da música, tirada do DVD da turnê de Cosmotron, você encontra aqui.

terça-feira, 2 de março de 2010

Restaurant Week: muita calma nessa hora

Começou ontem a sexta edição do festival gastronômico São Paulo Restaurant Week. Até dia 14, vários restaurantes da cidade oferecerão menus econômicos com entrada, prato e sobremesa, a R$27 no almoço e R$39 no jantar (em ambos os casos, o comensal é convidado a doar R$1 para o Ação Criança). Bom, isso os leitores mais antigos deste blog já sabem de cor.

Para quem não é tão aficcionado por comida, o site do evento, que traz os menus detalhados das casas participantes, pode ser informação demais de uma só vez. De fato, dá um trabalhão abrir os cardápios de todos os restaurantes, fazer uma pré-seleção e ir eliminando alguns candidatos, até chegar no planejamento perfeito. Por isso, os amigos e leitores mais próximos já se acostumaram a esperar pelas minhas indicações e sugestões, tal como fazem com os cinéfilos em véspera de Mostra.

Até eu, que sou mais empolgado com o assunto, fiquei meio zonzo depois de ler tantos menus. Selecionei 43 casas, usando como primeiro critério os pratos em si. Com base neles, dei uma chance a lugares que eu ainda não conheço, e deixei de lado algumas casas de renome, que não conseguiram me cativar com suas escolhas. Como o investimento é relativamente baixo, a SPRW acaba sendo uma ótima oportunidade para se aventurar por mesas nas quais a gente não costuma prestar atenção. Edições anteriores me trouxeram gratas surpresas, como o Apriori e o Bananeira.

Organizei minhas indicações por dois critérios. Primeiro separei menus de almoço, menus de jantar e casas em que ambos me interessaram (às vezes, os pratos são os mesmos, outras não). Os restaurantes que mais me apeteceram foram agrupados na "primeira divisão", e vou tentar focar primeiro neles; depois, na "segunda divisão", estão outras opções que também me agradaram. Cada link conduz ao respectivo cardápio (descontando-se as panes do site do festival, que sempre acontecem quando os acessos disparam).

ALMOÇO. Primeira divisão: Le French Bazar, Santa Gula, El Patio, Pé de Manga, Caroline, La Pasta Gialla. Segunda divisão: Babette, Bar Brahma, La Table, Vicolo Nostro, Ban Kao, Quintal da Madalena, Quinta do Museu, Casa do Porto, Bistrô Charlô.

JANTAR. Primeira divisão: Filippa, Gabriel, Marigot, La Forchetta, Tomates & Bananas, Na Cozinha, Abruzzi. Segunda divisão: Philippe Bistrô, Cordel, Limonn, Estación Sur, Ferrara, Fox, Florina.

ALMOÇO E JANTAR. Primeira divisão: Apriori (são pratos diferentes), AK Delicatessen (são os mesmos pratos), L'Amitié (pratos diferentes), La Marie (pratos diferentes), Marcel (mesmos pratos), D'Olivino (mesmos pratos). Segunda divisão: Blu Bistrô (parecidos), Ça-Va (iguais), Emprestado (diferentes), Ganesh (iguais), Jow Sushi Bar (diferentes), Matriz Hamburgueria (quase iguais), Robin des Bois (iguais), Piola (diferentes).

[UPDATE: A sensacional costela à Bourguignonne do Le French Bazar e o peixe saint-pierre com creme de limão do AK Delicatessen foram as melhores comidas dessa SPRW, na minha opinião. Depois, veio o curry de filé mignon do Fillipa. Também gostei muito do Vicolo Nostro e do Na Cozinha. O almoço do Quinta do Museu foi bem honesto, mas a atração máxima ali continua sendo a bela vista dos jardins que se tem das mesas, ao ar livre. O ambiente do Santa Gula também valeu mais do que a comida, apenas correta e em porção bem menor do que no cardápio normal. Amigos e informantes elogiaram o Praça São Lourenço (minha mãe amou), o Torero Valese, o Limonn e o L'Amitié. Já no capítulo "not so good", o La Forchetta serviu porções bem menores e sem o brilho habitual. E o Marigot é um restaurante de hotel no pior sentido da palavra: simplesmente insosso. Surpresas ruins como essa chegaram até a me fazer repensar meu interesse na SPRW como um todo. Mas, entre altos e baixos, o balanço da SPRW foi bem positivo: cada vez mais lugares e menus cada vez mais interessantes. Basta saber peneirar.]